sábado, 12 de maio de 2018

QUANDO O ÓPTIMO É INIMIGO DO BOM


A acumulação de sedimentos, o travamento das árvores caídas e a dinâmica das cheias, por si mesmas e na combinação entre si e com outros factores, são as causas mais comuns das alterações das margens dos rios, valas ou ribeiros.


Longe vão os tempos em que a limpeza das margens e do leito menor das valas eram confiados a profissionais, alguns encartados, que usavam ferramentas tradicionais, como a pá de valar, respeitadoras da fragilidade natural do meio. A partir dos anos 60 do século passado deixámos de poder contar com o sábio trabalho  dos valadores. Mas, por lá ficaram contendo as margens, os amieiros, choupos, freixos, salgueiros, ulmeiros, vidoeiros, vimeiros e roseiras bravas, além da vegetação rasteira. 


Apesar do Abril chuvoso, este ano não tivemos cheias. Talvez porque, por iniciativa da administração central do estado, o leito do rio  tem vindo a ser drenado. Uma dádiva valiosa do governo da nação, considerando que, por lei, compete aos proprietários nada menos do que a execução de obras hidráulicas, nomeadamente a correcção, regularização, conservação, desobstrução e limpeza do rio. Como se está mesmo a ver, encargos de valor insignificante tendo em conta os manifestos e escandalosos rendimentos  obtidos pelos agricultores na exploração familiar minifundiária ... 



São agora usados, potentes tractores e motosserras. O acesso ao rio de máquinas pesadas implica o derrube de árvores. É uma tal limpeza... Mas o objectivo é alcançado: aumento significativo do potencial de escoamento. Efeito que, por não compensado, tem um impacto negativo nas margens e, de ano para ano, uma significativa maior erosão vem acelerando a instabilidade com o derrube dos taludes. Assim, à custa dos proprietários privados, vai avançando a faixa de domínio público das margens que é, no caso do rio da aldeia, de 10 metros. Coisa de somenos...



Noutras paragens também não se dispensa o contributo das novas ferramentas. Mas há outra atenção, outra sensibilidade, outro respeito pelo meio ambiente e pelas pessoas nele envolvidas e, consequentemente, outra ponderação e outra perícia no controle da erosão e da sinuosidade. Praticam algo agora designado significativamente por bioengenharia, combinação de meios naturais e  material inerte. Os proprietários tal como o estado têm deveres legais a cumprir. Mas na distribuição dos encargos haverá ou não racionalidade e proporcionalidade em função da capacidade real dos particulares. Ou justiça, digo eu.

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